A depressão é como uma noite sem promessa de amanhecer, um vazio que consome não apenas a alegria, mas a própria percepção do tempo e do sentido. Diferente da dor física, que grita e se impõe, a depressão sussurra, corrói silenciosamente, transformando a existência em um fardo aparentemente insuportável.

Nietzsche dizia que “quem tem um porquê enfrenta qualquer como”, mas na depressão, o “porquê” se dissolve, e o “como” se torna uma sucessão de dias sem cor. No entanto, mesmo quando não se vê sentido, isso não significa que ele não exista. A vida, em sua complexidade, transcende nossas percepções momentâneas.

Talvez a maior crueldade da depressão seja sua ilusão de permanência: ela faz parecer que o que sentimos agora será eterno. Mas tudo na vida é fluxo, e mesmo a noite mais escura inevitavelmente dá lugar à aurora. A saída pode não ser um súbito despertar, mas sim um lento e persistente caminhar em direção à luz.

Por isso, quando tudo parecer sem propósito, talvez a resposta esteja não em buscar um grande significado imediato, mas em simplesmente continuar, um passo de cada vez. Pois, como já disse o poeta Rilke, “a vida sempre tem razão, mesmo quando não a entendemos”.

Rute Mendes

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